Entrevista

Jorge Pozzobom faz balanço do primeiro ano à frente da prefeitura de Santa Maria

Jaqueline Silveira

Fotos: Lucas Amorelli (Diário)

Um ano à frente da prefeitura de Santa Maria, o prefeito Jorge Pozzobom (PSDB) fez um balanço da sua gestão ao longo desse período. Em entrevista, o tucano falou sobre o Fila Zero e o programa Poupa Tempo, duas de suas principais bandeiras de campanha, e a promessa de construção da unidade da Cohab Santa Marta que não saiu do papel. Pozzobom também abordou a relação com sua base de governo, que terminou 2017 rachada, ajudando a eleger a chapa de oposição para a presidente da Câmara, com Alexandre Vargas (PRB). Além disso, o chefe do Executivo comentou sobre o uso das redes sociais e fez projeções para 2018. Confira:

Diário de Santa Maria - Qual é a situação do Fila Zero? O programa teria superado a meta e atingido mais de 80 mil atendimentos, mas, da meta inicial dos 64 mil, tinham mais de 8 mil óbitos e 8 mil desistentes contabilizados. Quais são os números hoje?
Jorge Pozzobom
- O número real é de 85.102 pacientes. Exame ou consulta real. Os 65 mil eram os que estavam de maneira pendente, de 5 anos atrás. A partir disso, zeramos as consultas. Para se ter uma base, isso era uma demanda que foi reprimida e, agora, foi atualizada. Tivemos, neste ano, um total de 365.916 atendimentos. Só no PA do Patronato, foram 63.645 pessoas. Na Tancredo Neves, 36 mil pessoas. Na Kennedy, 25 mil atendimentos. Em tese, temos 277 mil habitantes. Nas unidades de saúde, temos cadastradas 320 mil pessoas. No início do governo, eram 305 mil. São as pessoas que deixaram de ter o plano privado e se cadastram na área de saúde. Para nós, o dado marcante é pular de 44 mil para 46 mil crianças sendo atendidas. Estamos tentando diagnosticar qual a maior demanda, qual a maior doença. Temos tudo isso informatizado, para tentar entender quais são os maiores problemas por região ou o que tem causado essas doenças.  

Diário - Por que a unidade da Cohab Santa Marta não foi construída? O senhor tinha prometido entregá-la até o final de 2017.
Pozzobom
- Não consegui. Começou com a reforma, que ia custar R$ 350 mil. A empresa quebrou e foi feita nova licitação: R$ 550 mil. Foram duas licitações, e nenhuma deu certo. Atualizei e ficou em R$ 750 mil (a obra). Essa vai ser uma grande unidade padrão, através do acordo de cooperação e colaboração que temos com a Unifra. A previsão de conclusão é de sete meses. Tenho convicção que terminaremos antes. Uma das coisas que mais me chateou foi a burocracia disso. 

Diário - Quando devem começar a ser chamados os concursados da área da saúde?
Pozzobom
- Quando eu tiver absoluta certeza que eu tenho dinheiro para pagá-los. Não tenho como dizer quando terei esta certeza. O dinheiro está faltando. Quando eu tiver convicção de que tenho o dinheiro, os primeiros servidores que chamarei serão os médicos. Tem que ser no primeiro semestre. Até março, eu já tenho um balanço do primeiro trimestre. A partir disso, consigo a previsão com base na Lei de Responsabilidade Fiscal.

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Diário - O Hospital Regional pertence ao Estado, mas há uma cobrança em cima da sua administração, já que o secretário estadual da Saúde, João Gabbardo, anunciou no horário eleitoral da sua campanha a abertura do Regional no primeiro semestre de 2017. O que o senhor tem feito pelo funcionamento do regional? Qual é a situação hoje quanto à busca de um gestor?
Pozzobom -
É de ficar indignado, já que um ministro de Estado, um secretário, veio e me comunicou que poderíamos avisar que seria aberto. Aquela polêmica, que envolvia Sírio-Libanês, Mãe de Deus e Moinhos de Ventos, acabou com o Mãe de Deus, que vai ser vendido e pulou fora. Foi feita uma consulta na PGE para verificar se o Estado pode chamar uma instituição direto. Eu acredito que, bem mais cedo que imaginamos, o Estado vai anunciar quem será o gestor. Já está tudo conversado com o gestor. Falta a PGE dar o parecer. É uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos.  

Diário - O que o senhor tem feito junto ao Estado para a retomada da duplicação da Faixa Velha de Camobi, parada desde outubro?
Pozzobom -
Depois que eu trato com o governador (José Ivo Sartori), não tenho mais com quem tratar. É a única obra que tem o dinheiro garantido. É compromisso do governador. Pagaram um pouco do dinheiro atrasado. Devem R$ 19 milhões (à empreiteira). Não só dessa obra, devem mais ainda. 

Diário - Uma das bandeiras da sua campanha era o programa Poupa Tempo para agilizar alvarás, porque ele ainda não saiu do papel?
Pozzobom -
Vamos tocar o Poupa Tempo agora, em janeiro. O decreto está pronto. Teve uma mudança nas leis estadual e federal. Poucos dias atrás, a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra a lei estadual foi julgada improcedente. Hoje, temos uma segurança jurídica definida. Não abri mão de avaliar artigo por artigo juridicamente. Tem um pessoal que me ajudou. Minha grande preocupação é a segurança, ter certeza que o alvará dará toda a segurança para a prefeitura, para não ter algum problema como o da boate Kiss. 

Diário - A buraqueira na cidade é uma das maiores reclamações da população. A prefeitura tenta um empréstimo de até R$ 50 milhões do Ministério das Cidades com esse fim. Se aprovados, quando esses recursos entram nos cofres da prefeitura?
Pozzobom -
Esse dinheiro está praticamente garantido. Vamos contratar uma empresa para fazer os projetos. São 88 km de rua, do Plano de Mobilidade Urbana. Vamos licitar o projeto. Licitando o projeto, eu vou saber se preciso arrumar toda uma rua ou só uma base. A partir desses estudos, fazemos o remanejamento dos R$ 50 milhões e avaliamos quantas ruas conseguimos abranger. A licitação é para já. Em agosto do ano que vem começamos a fazer esse trabalho. O dinheiro que vai entrar da Corsan (R$ 12 milhões) será exclusivo para as ruas da cidade e as estradas do interior.

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Diário - Por falar em Corsan, o que falta para assinar o contrato? É a cláusula de rescisão?
Pozzobom -
A minha proposta é, durante cinco anos, eles me pagarem o que me devem. Nesses cinco anos, se derem causa à rescisão, eu não pago mais nada. Trancou. Eles devem o esgoto de Camobi. São R$ 120 milhões computados. Se eu der causa à rescisão nesses cinco anos, eu pago o valor, mas com um limite. O que me surpreendeu foi a Corsan discutir tanto a cláusula penal. Eles têm cinco anos para pagar o que devem e acredito que vão cumprir. 

Diário - E o projeto do cercamento eletrônico da cidade?
Pozzobom -
Faz parte do Plano Municipal de Segurança Pública. Aprovamos o fundo agora (Fundo Municipal de Segurança). Há uma possibilidade de o Ministério Público do Trabalho nos doar R$ 800 mil. Estamos fazendo um trabalho de integração entre a Guarda Municipal e a Brigada Militar. São nove motos da Brigada Militar e nove da Guarda Municipal, e cada moto equivale a cinco brigadianos ou cinco guardas. Conseguimos avançar muito nesta questão. Posso dizer, hoje, que mais de 70% do projeto está pronto. Óbvio que precisa ser feito o licenciamento ainda. Nossa ideia, para o futuro, é ter um grande centro de monitoramento que envolva Brigada, Polícia Civil, Samu, bombeiros, prefeitura e Polícia Federal. O grande avanço que temos é utilizar as câmeras de segurança particular interligadas com as da prefeitura. O termo precisa estar muito bem feito para que as câmeras tenham compatibilidade.
 

Diário - Qual foi a economia feita pela prefeitura com o corte de gastos anunciados no início do ano? E onde foi investido esse dinheiro? E o recurso do Balonismo e da decoração do Natal?
Pozzobom -
No total, mais de R$ 10 milhões. Não investimos porque não tínhamos esse dinheiro. Tinha R$ 800 mil para o Carnaval, R$ 800 mil para o Balonismo. Esse dinheiro não existia. Em julho, eu fiquei sabendo que acabou o dinheiro do lixo. Tive que sacar R$ 6 milhões, não sei da onde, para pagar. O dinheiro nunca saiu da máquina porque não existia. Dos 15 itens de despesa obrigatórios, conseguimos reduzir 41% em materiais de uso, 22% em celular e 15% em combustível. Com a reposição inflacionária que dei para os servidores, se eu não economizo isso, teria déficit. O Estado me deve R$ 10 milhões. Saquei do caixa único R$ 15 milhões para colocar na saúde, além dos R$ 4 milhões que a Câmara me cedeu. Gastamos mais de 20 milhões na saúde para tentar organizar. Não vamos ter esse custo no ano que vem. O Natal, ano passado, custou R$ 740 mil. Neste ano, nada.


Diário - E como estão as finanças hoje da prefeitura?
Pozzobom - Estão equilibradas. Faltam R$ 22 milhões no momento, mas o Estado me deve R$ 12 milhões, e ainda faltam R$ 10 milhões que devem vir com o IPTU.

 

Diário - Apesar de seu governo conseguir aprovar todos os projetos enviados pelo Executivo, houve um estremecimento com parte da base aliada a ponto de os dissidentes romperem o acordo da Câmara e formarem uma chapa com a oposição, vencedora da eleição. Os vereadores alegam que houve desrespeito. O que o senhor tem a dizer?
Pozzobom -
É mais que normal que alguns vereadores não estejam contentes com as ações do governo, por não conseguir recuperar coisas como estradas do interior. Mas como fazer, se não há dinheiro? Eles ficarem descontentes, para mim, é mais que normal. Nossos secretários mais demandados são os de Saúde e de Infraestrutura. O governo não permite que ninguém trate mal os vereadores. Conversei com os vereadores da base. Não me meto na Câmara. A única coisa que eu quero é que nós possamos continuar com esse tratamento harmonioso, entre Executivo e Legislativo, como a gente tem. Sem sombra de dúvida, alguns erros nós cometemos, vamos ver qual o erro e corrigir. Não erro pessoal com vereador, mas erro da relação institucional mesmo, entre governo e base. 

Diário - A exoneração de cargos de confiança do vereador Leopoldo Ochulaki (PSB), o Alemão do Gás, foi uma represália por ele ter se juntado ao grupo de oposição para eleição da Mesa?
Pozzobom -
Não, o governo tem a sua base, no momento em que ele (Alemão do Gás) disse que não faz mais parte da base do governo, que ninguém ia demitir os cargos dele, que ele iria votar contra o governo, não tem por que os cargos dele permanecerem no governo. Os cargos que são indicados têm uma função para o governo, e não são só esses aí, tem um monte de cargos que nós vamos modificar.

Diário - Alguns serão substituídos?
Pozzobom -
Eu tenho de criar uma Superintendência para Corsan, portanto, nesse remanejamento de cargos, que serão demitidos... Nós vamos ter de criar uma função específica (superintendência) de fiscalização do contrato, isso faz parte da cláusula contratual do contrato, que vamos assinar com a Corsan. E mais ainda: o prefeito tem liberdade. Imagina se eu vou me meter e dizer o que o Legislativo tem de fazer? Não. Eu confesso que eu não tinha noção da complexidade que chegou essa situação (relação com a base), até porque eu me lembro quando fui lá pedir para votar a Corsan (autorização para fazer o contrato), no outro dia, voltei lá para agradecer. 

Diário - E como fica a relação com os seis integrantes da base que se uniram à oposição na eleição da Mesa?
Pozzobom -
Sempre será a mesma, o governo não vai discriminar ninguém. A única coisa, nessa relação institucional, que nós temos que ver é ter um projeto que seja importante. Por exemplo, o projeto da Superintendência da Corsan, eu não consegui concluir ele na prefeitura, porque não tenho dinheiro para botar o impacto financeiro, mas, agora, tenho que deixar lá e pedir para eles votarem imediatamente para não ter de estar mandando em regime de urgência. Essa é a única preocupação que eu tenho. Eu vou convidar a nova Mesa Diretora para ir na prefeitura e, depois, eu vou lá, no início do ano legislativo, eu vou lá fazer aquela visita oficial que se faz todos os anos, com absoluta tranquilidade. Não pode os vereadores ameaçarem o governo, eu tenho respeito por todos eles. Essa questão da Câmara não tem novidade. Há um descontentamento natural dos vereadores da base, mas tem vereador de oposição, que esses dias, estava nos tapando de elogios.

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Diário - Em postagens feitas pelo senhor nas redes sociais, há comentários de eleitores de que é muita mídia e pouca ação. A oposição com frequência o acusa de ser mediático. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Pozzobom -
Tenho a dizer que eles têm de sentar comigo e ver os R$ 50 milhões que arrumei do Avançar Cidades, os R$ 31 milhões (PAC) que eu destranquei depois de 10 anos, os R$ 12 milhões livres da Corsan, provavelmente, mais R$ 12 milhões da venda da folha de pagamento, mais os R$ 48 milhões que são quatro vezes de R$ 12 milhões (sobre o faturamento da Corsan do município). Se pegar todas as minhas lives (transmissões ao vivo no Facebook), eu estou lá prestando conta do que está sendo feito. Xingam porque arrumou uma rua e não outra rua, faz parte da democracia. Se eu fosse me preocupar com a questão da rede social, eu não ia conseguir governar nunca. Fora o número de questões gigantescas que eu consigo resolver, a gente resolve muita questão aqui (Facebook). A mídia, para mim, é fundamental, porque é minha maneira de ser, de tu teres proximidade com as pessoas. Para mim, essa relação com a rede social é o mundo real, mas virtual, o que está sendo tratado ali é realidade, mas de maneira virtual. Para mim, o mais importante é a transparência daquilo que deu certo. E eu tenho falado um monte de coisa ruim.  

Diário -A folha vai ser vendida?
Pozzobom -
O contrato terminou no dia 19 de dezembro e prorrogarmos por mais quatro meses para fazermos a licitação. Somos obrigados a fazer a licitação. Como pagaram R$ 12 milhões para Pelotas (prefeitura) e o salário de Pelotas é equivalente, são mais servidores lá. São 8 mil lá, nós somos 4 mil. Mas o nosso salário é maior. Então, não abro mão que a discussão passe, no mínimo, por R$ 12 milhões. 


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